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Mostrando postagens de agosto, 2020

CAPÍTULO IV - O sofrido retorno a Cusco

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Durante todas as viagens, por vezes me permito pequenas extravagâncias, alterno vários dias de hostel, dividindo quarto com 4, 6, 8, 10 até 15 pessoas, com um dia em um hotel mais aconchegante, pra dormir sozinha, pra ter um bom café da manhã, pra poder caminhar nua pelo quarto falando ao telefone, ouvindo música, pra não me preocupar em levarem meu dinheiro, celular, documentos. Nessas ocasiões constato o verdadeiro privilégio de uma suíte, e me consinto o capricho de ter um banheiro só meu, e poder acessá-lo sem ter de escalar uma cama beliche, muitas vezes frágil e barulhenta, nem atravessar um corredor gélido, com as suas infinitas portas e parcas luzes. Também certas extravagâncias em matéria de restaurantes. Tinha sido um dia fisicamente exaustivo. Já havia feito o check out e precisava esperar algumas horas até a saída do trem de volta a Cusco. Decidi ficar num bistrô que emulava a imponência e elegância europeias, onde circulavam garçons exímios na verdadeira arte de servir, d

CAPÍTULO III - A caminho de Machu Picchu

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Conheci uma argentina no hostel e descobrimos que iríamos no mesmo dia para Machu Picchu e ficaríamos no mesmo hostel em Águas Calientes, o que não era tão ao acaso já que se tratava da mesma rede daquele em que estávamos em Cusco, e que era ótima, a Ecopackers . Ambas havíamos comprado a entrada para escalar a montanha mais alta, Huayna Picchu. A entrada para Machu Picchu não contempla a entrada para as duas montanhas localizadas em seu interior, a Machu Picchu e a Huayna Picchu, o que deveria ser comprado à parte. Como todas as minhas decisões, eu ainda estava em dúvida acerca de qual subiria até o momento fatal, ou seja, quando ainda estava na fila, chegando a minha vez de ser atendida. Estava com medo de fazer o trajeto mais desafiador, embora parecesse viável para alguém com a minha idade e preparo físico mediano. Foi o meu ex-namorado quem me apresentou o prazer da trilha, que não era nada prazeroso ao princípio. Foi pra isso que eu caminhei quatro horas com uma mochila p

CAPITULO II – Primeiro dia em Cusco

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Prim eiro dia em Cusco. O ideal seria aguardar cerca de três dias, aclimatando-se, antes de ir a Machu Picchu, de modo que teria bastante tempo por lá. Já começava a sentir distante a memória do meu ex-namorado tamanha a avalanche de estímulos. Estava com medo do soroche , o mal da montanha. Falava-se disso em todos os guias e blogs, comentava-se nos cafés, era preciso comer leve, não fazer muito esforço e estar atento à respiração. Mascar folha de coca me parecia ser a técnica mais genuína e honesta para driblar o soroche , já que se via nas mãos dos camponeses como parte de sua esplêndida indumentária. Nada de pílulas de farmácia, essas caras e artificiais, acondicionadas em embalagens estéreis e coloridas, que me pareciam especialmente voltadas aos turistas que não confiam no poder magnânimo da natureza e estão sempre prontos a gastar à toa. Afora o leve sentimento de transgressão em carregá-las, gostava de – já com falta de ar –     sentar na calçada, sacar um punhado de co